A ecocardiografia fetal é um exame que permite avaliar o desenvolvimento, a função e a anatomia do coração do feto ainda durante a gravidez. O exame não oferece risco para a gestante ou para a criança, trazendo os benefícios de um diagnóstico precoce e de um tratamento eficaz das cardiopatias fetais. Dessa forma, certas doenças – como determinadas formas de arritmia – já podem ser tratadas dentro do útero da mãe.
O diagnóstico complementa a avaliação do ultrassom morfológico, uma vez que é realizado por um cardiologista pediátrico e fetal especializado, e também possibilita o planejamento do parto para receber e tratar devidamente o recém-nascido que apresenta doenças cardíacas congênitas como a transposição das grandes artéria e a hipoplasia do VE ou do VD. Essas doenças requerem correção cirúrgica imediatamente após o nascimento.
No caso das formas de arritmia fetais que podem ser tratadas dentro do útero, o ecocardiograma fetal diagnostica e acompanha a resposta do feto ao tratamento, sendo ferramenta importantíssima no pré-natal das gestantes. O exame pode ser realizado através do abdômen materno a partir de 20 semanas, embora a melhor época seja por volta de 24 à 31 semanas de gestação.
Não há dúvidas de que o diagnóstico precoce das cardiopatias congênitas durante a gestação contribui para um melhor atendimento ao bebê e aumenta as chances de sucesso no tratamento. A presença de casos de cardiopatia congênita na família do pai ou da mãe e em filhos anteriores são fatores de risco bem conhecidos. Algumas infecções adquiridas pelas gestantes, como a toxoplasmose, a rubéola e a citomegalovirose, também podem comprometer a formação do coração fetal, assim como a diabetes, tanto a pré-existente quanto a adquirida durante a gestação.
Certas medicações de uso materno também estão associadas ao desenvolvimento de doença cardíaca fetal, principalmente quando utilizadas nos primeiros meses de gestação, exemplos incluem alguns anticonvulsivantes e alguns antidepressivos. Diante desses casos, o obstetra responsável encaminha a gestante para uma avaliação pelo ecocardiograma fetal.
As cardiopatias congênitas são consideradas as más formações fetais mais comuns. Dessa forma, é conveniente aprofundar a investigação com um ecocardiograma sempre que o ultrassom sugerir algum defeito na formação do coração fetal ou até mesmo de outro órgão, uma vez que podem haver associações.
Atualmente, realiza-se a avaliação da translucência nucal entre a 11ª a 13ª semana de gravidez. Deve-se sempre suspeitar de cardiopatia congênita quando é detectado um aumento do líquido na região da nuca do feto, principalmente na presença de um cariótipo normal. Da mesma forma, todo feto com cariótipo alterado deve ter seu coração avaliado por especialista, visto que as cardiopatias são extremamente frequentes nesse grupo.
Como na maioria das vezes as doenças ocorrem em fetos que não apresentam quaisquer fatores de risco, o coração fetal deve ser rastreado sistematicamente pelo ultrassonografista. Em caso de qualquer suspeita, ele encaminhará a gestante para uma avaliação especializada.
Outros aspectos devem ser destacados: gestantes com idade superior a 35 anos merecem uma avaliação pré-natal mais rigorosa devido às maiores chances de malformações fetais. Não é a toa que muitos obstetras têm incluído o ecocardiograma fetal entre os exames de rotina nesse grupo de pacientes.